quinta-feira, 22 de outubro de 2009

MEIO AMBIENTE: Rio 2016 Sano in Natura Sana


Hoje, o Jornal Lance!, do Rio, publicou artigo "Hora de se redimir dos erros do passado", de minha autoria, sobre os Jogos 2016 e o meio ambiente.




Postamos, a seguir, o texto original que originou o artigo:




“RIO 2016 SANO IN NATURA SANA”


Axel Grael

Consultor ambiental, presidente do Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael), ex-presidente da Feema e ex-subsecretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro.

A recente escolha do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016 aconteceu em meio a uma equilibrada disputa com as cidades de Madri, Tóquio e Chicago. E uma das maiores marcas das propostas foi o peso do meio ambiente na tomada de decisão. Esse é um critério que ganha importância crescente desde os Jogos Olímpicos de Munique, realizado em 1972, no mesmo ano em que se acontecia a Conferência de Estocolmo, precursora da Rio 92. Naquele contexto histórico, dirigentes esportivos se reuniram e anunciaram uma nova versão do lema olímpico “Mens sana in corpore sano”, sugerindo “Certatio sano in natura sana” (competição sã em meio ambiente são). A iniciativa prenunciava que os jogos seriam cada vez mais verdes, cabendo a liderança deste processo aos jogos de inverno, por serem realizados sempre em ambientes montanhosos e, portanto, muito sensíveis em termos ambientais.

Como o espírito olímpico nos ensina, vencer é muito bom, mas reconhecer os méritos dos derrotados é uma sábia e justa atitude. E nesse caso, analisar as propostas que as outras cidades apresentaram ao COI, só aumenta o orgulho pela conquista do Rio, pois apesar de derrotadas, as outras propostas eram excelentes. Ou seja, ganhamos pelos nossos méritos e não pela deficiência dos outros. De todos os projetos, uma especial atenção deve ser dada ao de Tóquio que impressionou pela ousadia e requinte do conteúdo ambiental. Os japoneses foram muito além de todos os demais concorrentes e prometeram que fariam a mais verde de todas as Olimpíadas. Todos prometiam medidas como a neutralização das emissões de carbono. Os japoneses garantiram que Tóquio 2016 seriam jogos carbono-negativos, ou seja, fixariam muito mais carbono (com o plantio de árvores, por exemplo) do que a quantidade que seria emitida direta ou indiretamente pelo evento (obras, consumo de eletricidade, transporte de atletas, etc.). Previram a construção de um estádio que seria totalmente operado com energia solar, gerada por painéis fotovoltaicos instalados em sua cobertura. O transporte seria todo feito por veículos elétricos ou a hidrogênio. Todos os equipamentos (locais de competição, alojamentos, etc.) seriam instalados em meio a parques amplos e arborizados, especialmente preparados para os Jogos. Todo o legado para a cidade foi planejado para beneficiá-la pelos próximos cem anos. Incrível!

Mas, paradoxalmente, enquanto os japoneses prometeram realizar jogos futurísticos, nós fomos os vencedores prometendo reparar o passado. A concepção do projeto do Rio previu resgatar os nossos passivos ambientais, herdados de décadas passadas, mas que ainda afligem a cidade. Mas, a nossa proposta não foi menos ousada que a dos concorrentes. O desafio de resolver os nossos problemas ambientais, no prazo de sete anos, é uma ambição tão grande quanto a exibição tecnológica prometida por Tóquio. A Rio 2016 será realizada com os seguintes ganhos ambientais: 1- a Baía de Guanabara com 80% da poluição controlada, com obras de saneamento e a solução do problema do lixo flutuante; 2- a melhoria da qualidade do ar, que inclui a intervenção nas emissões de gases dos veículos que circulam na cidade e maior controle sobre a indústria; 3- a balneabilidade das praias aumentará de 50% para 80% da orla; 4- serão plantados 24 milhões de árvores para a neutralização do carbono a ser emitido; 5- serão despoluídas a Lagoa Rodrigo de Freitas, o sistema lagunar de Jacarepaguá e o rio Maringá, em Deodoro, etc.

De todas essas medidas, a meta que mais tem causado polêmica é a promessa de despoluição da Baía de Guanabara. O ceticismo é compreensível, considerando-se os decepcionantes resultados que alcançamos depois de 15 anos de elevados investimentos já realizados. Para a Rio 2016, foram prometidos novos investimentos em saneamento (incluindo o sistema lagunar de Jacarepaguá) no valor de US$ 4 bilhões, ou seja quase o quádruplo do que foi investido no PDBG – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. É bom que se esclareça que muitas destas obras já estão em andamento e que o projeto é exequível sim, desde que se trabalhe muito. E também, compreenda-se que a Baía de Guanabara não estará totalmente limpa até 2016, pois restarão algumas regiões mais críticas, em particular na sua porção mais ao noroeste, ou seja, entre a Ilha do Governador e os municípios de Caxias até Magé. Nessa área, o assoreamento compromete muito a circulação das águas e a solução será mais demorada.

Enfim, agora, a fase de candidatura e de comemoração pela vitória já passou. Sonhar, planejar e registrar promessas nos relatórios já são coisas do passado. O momento é de arregaçar as mangas, de mostrar resultados, de começar a executar tudo aquilo que prometemos.

Axel Grael








Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contribua. Deixe aqui a sua crítica, comentário ou complementação ao conteúdo da mensagem postada no Blog do Axel Grael. Obrigado.