sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A herança de Martine

por Vanessa Ruiz, da revista ESPN
Matéria originalmente publicada na edição de agosto da revista ESPN

Em 1984, embora nunca tenha sido “comum”, Grael deixou de ser um sobrenome qualquer no Brasil. Começou com Torben, que, junto com Daniel Adler e Ronaldo Senfft, conquistou a prata olímpica na classe Soling em Los Angeles. Martine Grael nasceria só em 1991, quando mais conquistas já haviam sido atreladas ao nome da família: um bronze do pai (Star) e outro do tio Lars (Tornado), ambos em Seul-1988.

Hoje, ela tem 19 anos. Apesar de a mãe insistir que só deixará os filhos se considerarem profissionais da vela depois de se formarem na faculdade – “Por uma questão de maturidade”, explica Andreia Grael –, Martine caminha com firmeza nesta direção. Logo após sagrar-se campeã mundial da juventude na classe 420, no ano passado, ela iniciou sua campanha olímpica na 470 Oceânica, ao lado de Isabel Swan, bronze na Olimpíada de Pequim.

Apesar dos oito anos que separam as duas, não é só Isabel quem tem a ensinar: “Com a Tine, aprendi a ser mais leve, a aproveitar mais quando estamos treinando. Fico muito concentrada e esqueço que é um privilégio velejar como profissão.” Curtir o esporte é algo que Martine aprendeu desde cedo. Andreia conta que este era seu principal objetivo quando colocava os filhos no barco e saía para velejar. Marco, dois anos mais velho, compete na 49er com André Fonseca, três Olimpíadas no currículo. Para dar atenção integral à vela, ele trancou a faculdade de Administração; Martine, acadêmica de Engenharia Ambiental, fez o mesmo.

Foi em 2000 que os irmãos competiram pela primeira vez, em Niterói, onde a família mora. Era uma seletiva para o Mundial de Optimist, ideal para crianças e adolescentes por causa dos barcos leves, simples e de custo baixo. Martine não teve um grande resultado, mas mostrou personalidade forte. Enfeitada para a aparição em público com seu chapéu preferido, ela deixou o barco capotar. Quando o bote de apoio chegou para oferecer ajuda, ela respondeu, brava: “Não quero ajuda, não! Eu quero é encontrar o meu chapéu.” A mãe se orgulha ao dizer que Martine “é raçuda”, além de ter muita força física.

No caso de Martine e Isabel, é preciso mais do que se concentrar somente nas características que levam ao sucesso dentro d’água. Elas são responsáveis por tudo. “Nós procuramos as passagens, reservamos os hotéis, mas o que mais deixa a gente de cabelo branco é cuidar do transporte do barco. Meu pai dá algumas dicas”, conta Martine. Quando estão longe, Torben e a filha se falam principalmente por e-mail: “Ele fica ausente quando compete, mas está sempre presente.” Quando perguntado se ele é um pai bravo, ela ri e diz que prefere não comentar o assunto.

Dele, Martine puxou a determinação, a objetividade. Da mãe, herdou a energia, o gosto pela vida, aprendeu a ver o lado divertido das coisas. No tempo livre, a bateria é recarregada em trilhas. “Já subimos a Pedra da Gávea juntas”, conta Isabel. “A convivência é intensa, nos tornamos grandes amigas”, prossegue a parceira. Laços reforçados por uma longa viagem de trem da Eslovênia ao sul da França, cortesia do caos aéreo provocado pela erupção de um vulcão na Islândia.
As duas entraram recentemente para a Marinha. Passaram um mês em regime de internato para formar-se marinheiras e, assim, disputar a quinta edição dos Jogos Militares, no Rio, em 2011. Em março, elas foram campeãs mundiais de Vela Militar na J-24.Depois do nascimento de Martine, a coleção dos Grael continuou aumentando: ouro de Torben na classe Star, ao lado de Marcelo Ferreira, em Atlanta-1996 e Atenas-2004; bronze de Lars em Atlanta-1996 e de Torben em Sydney-2000. Todo o trabalho de Martine Grael tem como grande objetivo aumentar o rol de conquistas olímpicas da família.


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