quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quanto vale uma árvore? "Erva-de-passarinho" destrói a arborização de Niterói



Árvore em São Francisco, Niterói, sofre com infestação da erva-de-passarinho. (Foto de Axel Grael, 2010).

Árvore com a copa totalmente tomada por infestação de erva-de-passarinho. Foto de Axel Grael, 2010.

Nem todos percebem da mesma forma a beleza e as vantagens de se ter uma cidade arborizada. Como sou engenheiro florestal, tenho o hábito de andar pelas calçadas sempre olhando para o alto e observando as árvores, procurando identificá-las, descobrir a movimentação de aves, micos e muitos outros bichos que ainda temos o privilégio de encontrar no meio da cidade.

No entanto, uma dolorosa constatação é o descaso com que a arborização da cidade é tratada. Árvores urbanas devem ser vistas como uma herança para as atuais gerações deixada por pessoas que no passado tiveram a inciativa de planta-las. 

ERVA-DE PASSARINHO

Pelas ruas, vemos uma impressionante quantidade de árvores infestadas pela erva-de-passarinho, um vegetal parasita que se fixa nos galhos das árvores e que acaba causando-lhes a morte, seja pela sucção da seiva, seja pela ação física do seu peso sobre os galhos ou mesmo o sufocamento pela completa ocupação da copa da árvore hospedeira.

Outros sérios riscos à arborização são:
  • SELEÇÃO DE ESPÉCIES ERRADAS: A introdução de espécies inadequadas à arborização das cidades. Algumas espécies são de porte incompatível, com o tamanho das caçadas, outras têm características biológicas que as tornam intolerantes ao calçamento inadequado ("golas" com espaços insuficientes as levam a quebrar as calçadas), etc. As árvores mais comuns nas ruas das cidades são de espécies exóticas, ou seja, foram trazidas de outros países. Isso impede que a população conheça e valorize as nossas árvores nativas. Outro problema é que uma visão imediatista faz com que se dê preferência a espécies de rápido crescimento. Normalmente, árvores que crescem rápido, ficam velhas rápido e morrem cedo. Esse é um dos motivos que se verificam tantas árvores com problemas fitossanitários (doenças). Na cidade do Rio de Janeiro, verificam-se "casos clássicos" dos inconvenientes de espécies inadequadas: as Sterculia foetida, apesar de serem muito belas, exalam um odor insuportável, como já alerta o nome científico da espécie. Também, as Couroupita guianensis, igualmente bela e de curiosa floração, mas que produz pesadas e malcheirosas cabaças que podem causar danos ao caírem.
  • PODAS: podas feitas por equipes incapazes e despreparadas mutilam as árvores. Vemos árvores desfiguradas, desequilibradas ou severamente danificadas por poda excessiva.
  • ARVOREFOBIA: algumas pessoas - "urbanóides" em excesso - têm uma atitude de verdadeiro horror às árvores. Compram um terreno, uma casa, e a primeira coisa que fazem é cortar todas as árvores. Já conversei com alguns e os argumentos são os mais variados: "as folhas sujam o jardim", "dá mosquito", "se ventar vai cair", etc.
QUANTO VALE UMA ÁRVORE NA CIDADE?

Um estudo divulgado recentemente pelo Serviço Florestal dos EUA (US Forest Service) revela dados interessantes sobre o valor e a importância das árvores:
  • Na cidade de Chicago, as 3,6 milhões de árvores urbanas reduzem 890 toneladas de poluentes/ano, beneficiando a cidade com serviços ambientais calculados em US$ 6,4 milhões
  • Na cidade de Sacramento, casas com árvores plantadas na sua face Sul e Leste reduziram a conta de energia em US$ 25,16, em média.
  • Na cidade de Portland, casas com árvores no jardim ou na sua proximidade, aumentaram o seu valor médio de venda em US$ 8.870 e foram vendidas, em média, dois dias mais rápido do que as outras.
  • Nos EUA, o carbono fixado nas 3,8 bilhões de árvores urbanas geram um benefício calculado em US$ 14 bilhões em emissões. E se precisassem ser plantadas para gerar o mesmo benefício em retenção de carbono, demandariam um investimento de US$ 4 bilhões.
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Mais informações:
- Relatório do US Forest Service: clique aqui
- Informações sobre a Erva-de-Passarinho - Revista Floresta: clique aqui
- Tree Hugger

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Resposta à pergunta do amigo Antônio Maggessi feita aqui no Blog sobre o que fazer para se livrar da erva-de-passarinho:
Oi Maggessi,

A única forma de se livrar da erva-de-passarinho é a sua remoção física por meio de podas.

CUIDADOS AO EXECUTAR A PODA: A poda deve ser cuidadosa pois a erva-de-passarinho possui um tipo de raiz chamada haustório que se espalha por baixo da casca da árvore hospedeira, normalmente escaminhando-se em direção ã base do galho. É através desta estrutura que ela suga a seiva da árvore. Para eliminar a erva-de-passarinho, é preciso que não fique remanescente do haustório, pois o vegetal parasita poderá rebrotar.

ONDE PODAR: Dependendo do tipo de árvore hospedeira, quando estas tem cascas mais finas e lisas (justamente as mais vulneráveis à infestação), olhando-se o galho afetado com cuidado pode-se observar a extensão e a ramificação dos haustórios. A poda, então deve ser feita a alguns centímetros (20 cm) abaixo da extemidade observada do hastório. Na dúvida, ou quando não for possível identificar a extensão do hastório, faça a poda do galho a pelo menos 1 metro do local de infestação.

FAÇA A PODA O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL: Por ser necessário a intervenção radical, com a extirpação do galho infestado, quanto mais cedo a infestação for identificada e removida, menos drástica será a poda e menor o dano à árvore.

O QUE FAZER COM A ERVA-DE-PASSARINHO RETIRADA? Deve ser incinerada, enterrada ou até mesmo feito a sua compostagem, desde que com os cuidados necessários para que fique longe do acesso aos passarinhos. Caso fique exposta, a mesma poderá ser novamente levada pelas aves a outros galhos, causando a reinfestação. Assim é feita a sua dispersão deste vegetal parasita. As aves parecem atraídas pelos ramos tenros da erva-de-passarinho e as transporta de galho em galho. Daí o nome vulgar da planta.

COMO PREVINIR? Não é muito fácil. O melhor é evitar fontes de dispersão próximos às suas árvores. Caso aviste em árvores nas proximidades da sua casa, peça que vizinhos ou a própria Prefeitura, responsável pela arborização das ruas, façam o tratamento.

Axel Grael
Engenheiro florestal

12 comentários:

  1. Axel,é muito bom ver estas coisas sendo ditas com a propriedade de que conhece do assunto. Hoje todo mundo acha que entende de meio ambiente, mas o que se vê é uma sucessão de equívocos. E os piores exemplos vem quase sempre dos governos,visto que as pessoas responsáveis pelas decisões são escolhidas pelo critério político, e raramente por critério técnico. Bem oportuno.
    Jorge Carvalh0

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  2. Grande Axel,
    o sítio do Papai Noel está com este problema nas suas árvores. Qual o melhor método para acabar com a Erva de Passarinho?
    Bons Ventos,
    Maggessi
    maggessi@gmail.com

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  3. Oi Maggessi.
    A única forma de se livrar da erva-de-passarinho é a sua remoção física por meio de podas.
    CUIDADOS AO EXECUTAR A PODA: A poda deve ser cuidadosa pois a erva-de-passarinho possui um tipo de raiz chamada haustório que se espalha por baixo da casca da árvore hospedeira, normalmente escaminhando-se em direção ã base do galho. É através desta estrutura que ela suga a seiva da árvore. Para eliminar a erva-de-passarinho, é preciso que não fique remanescente do haustório, pois o vegetal parasita poderá rebrotar.
    ONDE PODAR: Dependendo do tipo de árvore hospedeira, quando estas tem cascas mais finas e lisas (justamente as mais vulneráveis à infestação), olhando-se o galho afetado com cuidado pode-se observar a extensão e a ramificação dos haustórios. A poda, então deve ser feita a alguns centímetros (20 cm) abaixo da extemidade observada do hastório. Na dúvida, ou quando não for possível identificar a extensão do hastório, faça a poda do galho a pelo menos 1 metro do local de infestação.
    FAÇA A PODA O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL: Por ser necessário a intervenção radical, com a extirpação do galho infestado, quanto mais cedo a infestação for identificada e removida, menos drástica será a poda e menor o dano à árvore.
    O QUE FAZER COM A ERVA-DE-PASSARINHO RETIRADA? Deve ser incinerada, enterrada ou até mesmo feito a sua compostagem, desde que com os cuidados necessários para que fique longe do acesso aos passarinhos. Caso fique exposta, a mesma poderá ser novamente levada pelas aves a outros galhos, causando a reinfestação. Assim é feita a sua dispersão deste vegetal parasita. As aves parecem atraídas pelos ramos tenros da erva-de-passarinho e as transporta de galho em galho. Daí o nome vulgar da planta.
    COMO PREVINIR? Não é muito fácil. O melhor é evitar fontes de dispersão próximos às suas árvores. Caso aviste em árvores nas proximidades da sua casa, peça que vizinhos ou a própria Prefeitura, responsável pela arborização das ruas, façam o tratamento.

    Axel Grael
    Engenheiro florestal

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  4. Erva de passarinho é a maior praga dos pomares e jardins. As arvores do Aterro do Flamengo estão tomadas. A erva tem que ser erradicada por podas radicais ou continuará a se espalhar graças ao inocente trabalho dos pássaros.
    Frederico

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  5. Axel
    Já ouvi de "autoridade ambiental" da cidade que era melhor mesmo deixar a erva-de-passarinho infestar e matar as árvores exóticas (no caso amendoeira). Além de ajudar a propagar mais a praga, não acho que seja a melhor solução deixar as amendoeiras morrer, ou mesmo cortar árvores adultas para substituir por palmeiras (muitas também exóticas). É claro ue é melhor plantar árvore nativas, mas xenofobismo biológico também já é demais,

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  6. Axel
    Tenho um ipe amarelo infectado de erva de passarinho posso fazer uma poda drastica nele qual a solução???

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  7. Olá Sr. Secretário Axel, moro em Itaipu, e gostaria de saber qual seria a espécie adequada para plantar na minha calçada? Pensei no ipê amarelo, seria adequado? A prefeitura disponibiliza a muda? Onde? Desde já grato.

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  8. Caro Axel,
    Estou passando por uma verdadeira via-crucis em função da árvore em frente a minha casa. Gostaria de sua ajuda pois não sei mais o que fazer.
    A árvore está cheia de erva-de-passarinho e seu tronco apresenta fungos, líquens e outros parasitas. Suas raízes arrebentaram a jardineira e a calçada, e já estão estourando o asfalto. Uso muleta e já tropecei várias vezes em suas raízes, sendo que num desses tropeços fui parar no HCN - levei onze pontos na região frontal e sofri concussão cerebral. Carrinhos de bebê e cadeiras de roda são obrigados a passar pelo asfalto, por causa das raízes. (continua)

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  9. Oi Lucia Helena. Encaminha as informações para axelgrael@gmail.com

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  10. Post de 2010, mas muito atual. Aqui no Grajaú a impressão que se tem é que todas as árvores estão infestadas. De vez em quando uma desaba completamente oca, uma lástima. Em poucos anos acredito que nosso bairro, um paraíso arborizado, vai ficar só na lembrança dos mais velhos.

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  11. Nunca me senti meus pensamentos tão bem representados... tanto tempo se passou dessa postagem e quase ninguém aprendeu sobre as necessidades do meio ambiente. Nem mesmo a pandemia foi suficiente.

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