domingo, 24 de abril de 2011

Matéria da Folha de São Paulo expõe a triste situação que ameaça a vela no Brasil.

Vento contra

Sob intervenção desde 2007, vela vê rarear investimento na base, e, sem apoio, novos talentos deixam o esporte.

Por RODRIGO MATTOS (Folha de SP – 24/4/2011)

Segundo velejadores e cartolas, esse abandono do período de formação dos jovens se acentuou nos últimos quatro anos, desde que a Confederação de Vela a Motor está sob intervenção do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). A interferência se deu em 2007, quando a confederação ficou sem comando e falida – com mais de R$ 100 milhões em dívidas fiscais. A partir daí, um interventor indicado pelo comitê passou a gerir a confederação, e é o COB quem distribui as verbas. A base é ignorada. “Só se consegue tirar dinheiro do COB para as classes olímpicas”, diz Adélvio Leão, presidente da Associação Brasileira da Optimist, classe voltada a iniciantes. “Até 2016 [Olimpíada do Rio], ou antes disso, já vai se sentir esse efeito”, completa.

Às categorias de base, o COB só paga viagens internacionais de porte -crescem as barreiras aos ascendentes. “É difícil para quem está começando. Vejo pela parte jovem da equipe, que tem muita dificuldade para competir”, conta o bicampeão olímpico Torben Grael. Na optimist, há ainda um número alto de atletas, pois os custos são mais baixos. Depois, em geral, os jovens escolhem entre a laser radial (individual) ou a 420 (em dupla). Entre os homens, essas são versões menores dos barcos das classes laser e 470, que são olímpicas. Aí as despesas sobem. Importado, um barco de laser radial custa R$ 20 mil. A vela sai por R$ 1.800. Ainda há pagamento a técnicos e viagens. “Basicamente, o pai é quem banca”, afirma Ricardo Paranhos, 17, campeão brasileiro da classe 420. Ele mora em Brasília e viaja para São Paulo para fazer treinos com o seu parceiro. Para a competição deste final de semana, por exemplo, a casa de Elstrodt transformou-se em uma república.

Olímpicos também penam sem receber ajuda da confederação

Se afeta de forma mais dura a base, a paralisação da confederação de vela também prejudica os olímpicos. O bicampeão Torben Grael, por exemplo, está sem patrocínio pessoal para treinar e competir. Ele banca viagens com recursos próprios e ajuda de custo da entidade, que é insuficiente. Concorre com Robert Scheidt por vaga na star na Olimpíada-12. “Lógico que afeta [a paralisação da confederação]. Você ter uma boa administração vai ajudar todos os atletas do esporte. Você ter um pessoal encastelado no poder e manipulando tudo não é legal”, reclama Torben. Seu irmão Lars fechou patrocínio próprio por meio da lei de incentivo. Com isso, banca a maior parte de suas despesas na star. Seu custo chega a R$ 270 mil por ano. “Mas não faço uma campanha profissional. Não consigo ir a todos os eventos.” O COB também usou a lei de incentivo para levantar até agora R$ 900 mil para a vela. O valor do projeto é de R$ 4,2 milhões para preparação para Londres-12.

Interventor diz que já queria ter passado cargo.

Responsável pela intervenção do COB na confederação de vela, Carlos Luiz Martins diz que gostaria de já ter repassado a gestão da entidade a um eleito. Mas ressalta que não houve candidatos.
“Dou parcialmente atenção à confederação. Até porque a atividade é muito mais de assessoramento técnico e de preparação técnica da equipe. E eu não estou vislumbrando solução”, admite ele, que é um dos diretores do Comitê Organizador da Olimpíada Rio-2016.

O cartola disse ter tentado fazer eleição no final de 2010, mas não houve interesse de candidatos.
A confederação tem dívidas fiscais anteriores à gestão do COB. A Receita Federal entende que não foram pagos impostos relativos à parceria feita com o Bingo Augusta. Estima-se que os valores ultrapassem R$ 100 milhões, já cobrados na Justiça Federal. A Folha identificou duas execuções judiciais que somam R$ 26,6 milhões.

Para Martins, os débitos são fruto de interpretação jurídica equivocada da Receita. Diz ter tentado acabar com eles, sem sucesso. O dirigente admite prejuízo para o esporte. Já houve patrocinadores interessados na confederação, mas não puderam investir por causa do bloqueio de bens e rendas. As despesas são pagas pelo COB, sem passar pelos cofres da entidade. “A intervenção foi fundamental, mas tivemos perda muito grande”, conta Lars Grael, ex-presidente da confederação, que renunciou em 2007. Há planos de dirigentes para retomar a CBVM. Ainda não há nomes.

Fonte: Coluna do Murillo

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