domingo, 8 de janeiro de 2012

Pré-Olímpica de Vela - O Suicídio do Elefante

Lars Grael


No início dos anos 80, a Semana Pré-Olímpica de Vela viveu seu apogeu.

A CBVM sob o comando de Eduardo Souza Ramos e com apoio da Atlântica Boavista e Bradesco, promoveu o mais relevante evento anual de Vela de Alto Rendimento no país.

As classes olímpicas reuniam de 15 a 30 barcos em cada classe e conviviam em regatas de altíssimo nível, contra os melhores do mundo, alguns, lendas do Iatismo como: Melges; Ullman; Smyth; Doreste e tantos outros.

A Pré-Olímpica visava elevar a quantidade e qualidade da Vela Olímpica Brasileira. Este movimento, desencadeou as 12 medalhas que a Vela Brasileira obteria nos jogos seguintes.

O objetivo não era de burocraticamente indicar o melhor do Brasil para correr no exterior e este voltar defasadamente superior aos demais. O objetivo era trazer o mais alto nível e disponibilizar o conhecimento para todos. Algo mais plural e includente.

Na classe Tornado por exemplo, na edição de 1983 da Semana Pré-Olímpica, tinha 1 dupla americana (campeã mundial); 3 duplas austríacas (1 campeã européia); 1 alemã; 4 argentinas e 11 barcos brasileiros. Ficar na 5a colocação, causou-me o maior orgulho e incentivo. Hoje a Pré-Olímpica reúne de 1 a 5 barcos e apenas 1 receberá a benécie das verbas públicas e da confederação.

Graças a esta visão de futuro, pude absorver conhecimento do americano Randy Smyth (campeão mundial de 1982 e 1983), e conquistar a vaga para minha primeira olimpíada em 1984.

Pelos critério atual, nunca teria chegado lá...

Em 2010, a CBVM decidiu aprovar uma mudança na regra de forma a proteger os interesses dos membros da Equipe Permanente de Vela Olímpica - EPVO. A eliminatória começaria pelo mundial da ISAF em Perth (Australia). O melhor brasileiro que classificasse o brasileiro lá, ganharia um ponto.

O segundo e derradeiro ponto, viria da atual moribunda Semana Pré-Olímpica de Vela que ocorrerá em fevereiro de 2012 em Búzios. Caso houvesse empate, o desempate viria de um terceiro evento no exterior.

Ora, num país com mais de 8 mil km de costa, fazer eliminatória da Australia (não poderia ser mais longe?), é no mínimo um casuismo. Isto por um acaso é esporte de inverno que tem que fazer seletiva olímpica nos alpes suiços? No mínimo um casuismo, ou, um jogo de cartas marcadas.

Marcadas porque somente o membro da EPVO iria para a Australia com tudo pago, técnico e barco novo. O princípio da competitividade, parte do pressuposto da isonomia de chances entre os concorrentes no certame.

Se um mortal mandasse às suas próprias expensas seu barco para a Australia, não teria seu próprio barco para a seletiva em Búzios. Esperto né?

O critério foi aprovado numa reunião durante a Semana de Weymouth na Inglaterra entre a direção da CBVM e os próprios membros da EPVO. Aprovado ainda à revelia do Conselho Técnico que fiz parte e me desliguei.

Não condeno os velejadores que apenas buscam o melhor para si. Lembra a realidade da política brasileira. Quem tem um benefício, trata de defendê-lo. Quem não tem, reclama.

Um político mineiro certa vez ironicamente definiu o conceito de uma negociata: "um grande negócio ao qual você não foi chamado a participar..." Certo? Tá errado!

A CBVM deveria ser muito mais do que um escritório de administraçào dos interesses da equipe permanente de Vela.

A Pré-Olímpica de 2012 poderia ser sensacional colocando, por exemplo, na raia uma disputa eletrizante entre Scheidt, Torben Grael, Lars Grael, Alan Adler e outros velejadores não menos expressivos.

Jamais questionaria a supremacia da dupla Scheidt / Prada de longe a favorita. Simplesmente a melhor do mundo. Eles provavelmente ganhariam com brilhantismo.A eles, nossa admiração e torcida.

Da forma que foi feito, a disputa não ocorrerá. A CBVM conseguiu eliminar nossa motivação antes do evento. Uma pena!

A Pré-Olímpica vai ser um desfile de pré-classificados com exceção de uma disputa quente entre 2 barcos na classe 470 feminino.

Tomara que a mentalidade mude. Londres já chegou e torceremos para nossa equipe brasileira de qualquer jeito!

A Vela Brasileira atingiu supremacia continental nos panamericanos de 2007 e 2011 e isto lastreia a filosofia que impera no Brasil, que o fim justifica os meios.

Preocupo-me com o futuro e com a falta de renovação. Ninguém quer ser azeitona da empada dos outros no atual formato da Pré-Olímpica.

Pensemos em mudanças. Pensemos em 2016, 2020...

Bons Ventos,
Lars Grael


Do site de Lars Grael

9 comentários:

  1. Lars, brilhantes colocações, e certeiras. Mas nenhum esporte hoje pode ser comparado com a década de 80 e mesmo inicio da 90. Repito, concordo com todas as suas colocações, mas só você aparece para falar e mostrar a realidade, os outros preferem ficar na radio corredor. Alem das classes terem mudado, os velejadores tem se mostrado uma modalidade muito desunida, talvez ate pela atual situação política da principal entidade dirigente no país, mas surge como desculpa. A CBVM precisa de um choque de gestão e não de uma ação entre amigos. Vamos aguardar os desdobramentos, mas temo que seja tarde.

    ResponderExcluir
  2. Oi Axel e Lars,

    Concordo em parte!! Não acredito que o problema seja a forma de classificação, pois até acho mais justo colocar os dois eventos, pois apenas um poderia criar injustiças. O que tem de ser garantido é se algum herói vencer os favoritos em Búzios, seja imediatamente incluído na EPVO para ir ao evento de desempate. Acho que isto, se não estiver previsto, pode ser conseguido até judicialmente.
    O que me preocupa é outra faceta, ou seja, a falta de velejadores profissionais de verdade em bom número, é só isto que poderia elevar o nível de nossa vela, já que atualmente é humanamente impossível a algum talento amador fazer frente a qualquer membro da nossa EPVO, com as exceções da 470 e da Star, exceções que só confirmar a regra.
    Grande Abraço,
    Luciano.

    ResponderExcluir
  3. Sou da filosofia de "limpar a casa". Ou seja, nada de ficar varrendo um tapete hoje, arrumando uma cama amanhã,...Já que é pra acabar com a CBVM e criar outra federação, que recomece com novos nomes e novas ideias.
    O modelo atual (Kadu & CIA) não deu certo e não vai dar certo.
    Todo o "esqueminha" já está pronto, ou voces acreditam que só pelo fato de mudar o nome de confederação, tudo será diferente ?

    Quando vejo grandes empresas (TIM, Coca-Cola, Petrobras,..) abandonando projetos de patrocinios e apoios, com um "Negado - Projeto de Risco", eu começo a entender o que se passa dentro daquele escritorio no Shopping Downtown-RJ.

    ResponderExcluir
  4. Concordo plenamente. A Federação vai sempre favorecer aqueles que já têm apoio, estrutura e, principalmente, dinheiro, diminuindo ainda mais as chances dos velejadores menos abastados. Infelizmente essa é a realidade que desmotiva milhares de jovens por todo o país.

    ResponderExcluir
  5. A vela hoje está abandona. A geração que temos é uma geração perdida. Ou se tem dinheiro ou não. Muitos talentos que surgiram entre 2000 e 2010 estão por ai, largados. Grandes talentos que, por não terem um apoio que custeasse treinamentos fora do Brasil, participações em campeonatos internacionais, entre outras coisas, ficaram limitados a se desenvolver sozinhos, apenas com o Brasil como parametro.

    É uma pena ver que o esporte que mais deu medalhas olímpicas para o Brasil esteja sendo dirigido de acordo com interesses e valores que não levam em conta o velejador.

    A CBVM apoiou em peso nossos atletas no Mundial de Optimist e o resultado foi muito bom. Houveram treinos intensivos, participações em campeonatos do exterior e etc. Mas, até a CBVM entrar para custear esses treinos, foram os pais dos garotos que bancaram campeonatos Norte-Americanos, Sul-Americanos e Europeus.

    Agora temos um problema: A CBVM apoia a base, mas as classes intermediárias (Laser, 420 e Snipe) estão abandonadas. A última equipe que foi para o Mundial de 420, foi sem uma ajuda mínima de custos da CBVM. Nem técnico eles tiveram.

    Fica minha torcida para uma mudança na gestão da CBVM com o objetivo de engrandecer a vela brasileira como um todo. Senão nossos resultados em Olimpíadas só tem a piorar.

    ResponderExcluir
  6. Essa discussão é altamente pertinente e estamos no ano em que DEVE haver uma mudança. Vamos colocar pra chacoalhar!!Parabens , Lars pela iniciativa da boca no trombone!!

    ResponderExcluir
  7. O Randy Smyth participa anualmente (em março) de uma regata desafio chamada Everglades Challenge (www.watertribe.com). Este evento não é federado e nem promovido por Iate Clube. São 300 milhas náuticas de Tampa aos Everglades (Flórida) na companhia de caiaques, caiaques a vela e pequenos veleiros feitos em casa. Ele participa com um pequeno trimarã que projetou.
    Será que o Randy Smyth continua apontando o caminho?

    ResponderExcluir
  8. Lars,
    Vimos no formato antigo onde somente a Pré-Olimpica decidia quem seria nossos representatnes premiar velejadores que não investiram para obter a vaga e tambem não ser o melhor representante para o nosso país. Deixar que apenas um campeonato decida uma campanha de 4 anos é muito pior do que decidir um campeonato com uma regata apenas !! Ou seja, jogar fora todo um trabalho para um evento só.
    Pergunto, o que queremos é que o melhor brasileiro no exterior possa representar o Brasil ou o melhor dentre os brasileiros ? Quem é o melhor ?
    Eu pessoalmente acredito que ter eventos fora é a melhor solução, so que acredito que o melhor evento internacional deveria o evento teste de Londres por ser já na raia dos Jogos Olimpicos !! Mas entendo a tua colocação pois gostaria muito de ver nossos velejadores Olimpicos velejando para elevar nossa vela nascional !!! Só assim teremos um trabalho com continuidade e renovação.
    Bons ventos pra todos nós !!

    ResponderExcluir
  9. Prezado debatedores. Agradeço a participação de todos que estão registrando as suas opiniões aqui no Blog do Axel Grael. Para isso que ele existe. Para dar uma singela contribuição à informação e ao debate.

    Gostaria, no entanto, de fazer um apelo aos debatedores para que se identifiquem, pois as mensagens "anônimas" desqualificam e prejudicam o debate.

    Bons ventos,
    Axel Grael

    ResponderExcluir

Contribua. Deixe aqui a sua crítica, comentário ou complementação ao conteúdo da mensagem postada no Blog do Axel Grael. Obrigado.