segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Censo verde do Rio alerta: há 31 espécies em extinção


Trecho reservado da Mata Atlântica - Custódio Coimbra / O Globo


Inventário inédito no estado, com 1.200 espécies de vegetais catalogados, aponta prioridades para conservação

por Emanuel Alencar

RIO — O Estado do Rio, que, neste Dia da Árvore, comemora ter alcançado uma meta de ‘‘desmatamento zero’’ na Mata Atlântica, começa a desvendar os segredos e os problemas de suas florestas. Um levantamento inédito, que vem sendo feito pela Secretaria estadual do Ambiente, identificou 31 espécies de vegetais — entre árvores, arbustos, bromélias, orquídeas e bambus — ameaçadas de extinção em território fluminense. Quatro delas, que sofrem com a urbanização de áreas litorâneas, só podem ser encontradas por aqui: a sapucaia-miúda, o ingá-da-restinga e duas que não receberam nomes populares (Machaerium obovatum e Plinia ilhensis). O objetivo dos profissionais das áreas de engenharia florestal e biologia que trabalham no estudo é encaminhar 15 mil amostras de plantas para o Jardim Botânico até o fim de 2015 — 6.500 já foram coletadas.

Um ano depois de ser lançado, o inventário florestal estadual catalogou 1.200 espécies e jogou luz sobre a necessidade de conservação de exemplares raros da flora. Segundo especialistas, o arbusto Plinia ilhensis está sob forte ameaça de extinção. O biólogo Marcelo da Costa Souza, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), só localizou nove unidades da espécie em todo o estado. Vegetal da família das Myrtaceae, da qual fazem parte jabuticabeiras, pitangueiras e goiabeiras, o Plinia ilhensis se destaca por uma função nobre: produz um óleo cuja finalidade medicinal está sendo pesquisada.

— Encontramos os únicos exemplares da espécie em poucas áreas da capital, de Niterói e de Cabo Frio. As ocupações de restingas são uma ameaça real à nossa flora. A vegetação rasteira que encontramos em encostas rochosas, cheia de espinhos, não costuma chamar a atenção. No entanto, tem um enorme valor medicinal — afirma Souza.

UM ‘TABULEIRO’ PARA EXPLORAR

Até o fim do levantamento, técnicos vão analisar 282 áreas verdes no estado, cada uma com 4 mil metros quadrados. É como se o mapa do território fluminense tivesse sido dividido em diversos quadrados, como os que formam um tabuleiro de xadrez. Cada pedaço recebe avaliações de biólogos e engenheiros florestais.

Parte da equipe que estuda áreas verdes do território fluminense - Secretaria Estadual do Ambiente / Divulgação


Metade das áreas, localizadas nas regiões dos Lagos, Serrana, Norte e Noroeste, já foi estudada. Os recursos para o levantamento saem de fundos de compensações ambientais, com apoio técnico do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente.

De acordo com a superintendente de biodiversidade e florestas da Secretaria estadual do Ambiente, Denise Rambaldi, o estudo será um valioso instrumento para nortear as futuras políticas de proteção ambiental.

— A maior parte das espécies ameaçadas de extinção está fora das unidades de conservação ambiental do Estado do Rio. Isso é algo que serve como um alerta para todos nós — destaca Denise.

AGORA, O DESAFIO É PROTEGER O QUE RESTOU DA MATA ATLÂNTICA

Garantindo que houve avanços significativos no combate ao desmatamento no Rio, a Secretaria estadual do Ambiente informa que, agora, seu objetivo é ampliar os parques e as reservas já existentes, além de apoiar a criação de unidades municipais. Denise Rambaldi diz que o maior desafio do governo fluminense é proteger o que chama de fragmentos de Mata Atlântica:

— Os grandes remanescentes florestais estão protegidos. Devemos olhar com mais atenção aos fragmentos da Mata Atlântica com menos de mil hectares. O mapeamento dessas áreas está sendo feito.

No Brasil, inventários florestais são instrumentos da política nacional de mudanças climáticas (lei federal 12.187/2009). Santa Catarina foi o primeiro estado a iniciar, em 2009, esse tipo de estudo, que foi concluído há dois anos. Hoje, pesquisadores já cuidam de sua atualização. Aqui, a ideia é fazer novas edições do inventário fluminense a cada cinco anos.

— Os resultados do inventário vão mostrar, por exemplo, que o Rio tem um potencial enorme para o manejo florestal, que é a forma de conseguir benefícios econômicos de áreas verdes de maneira sustentável — afirma Denise, acrescentando que o estudo ainda ajudará a estabelecer novas regras para licenciamentos ambientais.

A bióloga Alba Simon, idealizadora do projeto, considera o inventário um divisor de águas:

— Vamos saber o tamanho real da Mata Atlântica. Não será mais possível conceder licenças para empreendimentos sem consultas ao estudo, que se tornará um mecanismo da política pública.

AMEAÇADAS

SAPUCAIA-MIÚDA. A Eschweilera compressa, que só existe no Rio, é uma das quatro espécies ameaçadas de extinção.

INGÁ-DA-RESTINGA. O arbusto cujo nome científico é Inga maritima também está desaparecendo por causa da expansão urbana no estado.

MACHAERIUM OBOVATUM. Este arbusto só pode ser encontrado nas restingas e matas secas da Região dos Lagos.

PLINIA ILHENSIS. Ainda sem nome popular, é um arbusto que cresce apenas nas áreas litorâneas do Rio, de Niterói e de Cabo Frio. Pesquisadores só acharam nove exemplares.

Fonte: O Globo





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